Em
visita às aldeias indígenas do norte do Rio Grande do Sul no ano de 1848, o
militar José Joaquim de Andrade Neves constatou que uma terrível enfermidade acometia
os índios: a elefantíase. O aspecto da doença e as mortes estavam causando pavor
aos outros índios que já abandonavam as aldeias indo refugiar-se nas matas em
busca de seus próprios métodos de sanar tão medonha enfermidade.
Hoje
sabemos que a elefantíase (filariose) é transmitida por mosquitos infectados
por um parasita chamado Wuchereria
bancrofti. Naquela época, contudo, os índios acreditavam em algum mal contagioso, que passava de pessoa para
pessoa, ou mesmo em punição sobrenatural. Diante dessa situação, Andrade Neves encontrou uma solução para o caso:
“parece-me acertado que estes enfermos fossem auxiliados com sustento e
transporte e levados às águas minerais de Santa Maria da Boca do Monte, onde consta que iguais doentes têm melhorado.” Popularmente, tais águas eram chamadas de "águas do monge", assunto que já tratei aqui, aqui e aqui.
Em
resposta, o governo sul-rio-grandense (cargo ocupado por outro militar) argumentou
que não havia comprovação que as águas curassem elefantíase ou qualquer doença,
portanto, não investiria recursos públicos para transporte dos índios enfermos.
O general
Francisco José de Souza Soares de Andrea não queria alimentar a crença popular
patrocinando o transporte de doentes à Santa Maria da Boca do Monte. Sua decisão se pautava nos pareceres
científicos dos médicos que haviam negado quaisquer princípios medicinais às águas.
Aquela
era uma época em que militares que ocupavam cargos públicos estavam aprendendo
a ouvir a ciência.