terça-feira, 28 de julho de 2020

Quando os militares ouviam a ciência


Em visita às aldeias indígenas do norte do Rio Grande do Sul no ano de 1848, o militar José Joaquim de Andrade Neves constatou que uma terrível enfermidade acometia os índios: a elefantíase. O aspecto da doença e as mortes estavam causando pavor aos outros índios que já abandonavam as aldeias indo refugiar-se nas matas em busca de seus próprios métodos de sanar tão medonha enfermidade.

Hoje sabemos que a elefantíase (filariose) é transmitida por mosquitos infectados por um parasita chamado Wuchereria bancrofti. Naquela época, contudo, os índios acreditavam em algum mal contagioso, que passava de pessoa para pessoa, ou mesmo em punição sobrenatural. Diante dessa situação, Andrade Neves encontrou uma solução para o caso: “parece-me acertado que estes enfermos fossem auxiliados com sustento e transporte e levados às águas minerais de Santa Maria da Boca do Monte, onde consta que iguais doentes têm melhorado.” Popularmente, tais águas eram chamadas de "águas do monge", assunto que já tratei aquiaqui e aqui.

Em resposta, o governo sul-rio-grandense (cargo ocupado por outro militar) argumentou que não havia comprovação que as águas curassem elefantíase ou qualquer doença, portanto, não investiria recursos públicos para transporte dos índios enfermos.

O general Francisco José de Souza Soares de Andrea não queria alimentar a crença popular patrocinando o transporte de doentes à Santa Maria da Boca do Monte. Sua decisão se pautava nos pareceres científicos dos médicos que haviam negado quaisquer princípios medicinais às águas.

Aquela era uma época em que militares que ocupavam cargos públicos estavam aprendendo a ouvir a ciência.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Para quem acredita em milagre, a ciência não ajuda muito.

Em um mundo não muito distante de nós, mas em outro tempo, aconteceu um caso interessante. Milhares de pessoas passaram a se encaminhar para um local onde brotava uma água “milagrosa”, que curava todo tipo de doença. Tal água nascia de uma fonte “abençoada” que já havia operado a salvação de vários doentes, diziam os comentários. As notícias corriam céleres, de boca em boca, fazendo com que tal fonte virasse um verdadeiro centro de peregrinação. A aglomeração chamou a atenção das autoridades, dos jornalistas e dos cientistas.


Fonte de água "milagrosa", no Cerro do Botucaraí, Candelária/RS

Dois médicos, que também eram químicos, realizaram testes com essa água, concluindo que ela era unicamente potável. Porém, de pouco adiantou a propaganda do governo e dos jornais denunciando o charlatanismo e a impostura daqueles que ainda apregoavam a cura pelo uso da água, pois o povo continuou a afluir à fonte, acreditando no milagre.

Paralisias, cegueira, doenças de pele, ossos quebrados, problemas respiratórios, dores abdominais, de ouvido, de garganta, e até infertilidade feminina...tudo se curava pelo uso da dita água “santa”. Se fosse hoje, talvez também existissem alguns propagandeando que a ingestão da água curasse parasitas, vermes e vírus. Afinal, mesmo sem comprovação científica de sua eficácia, mal não faria tomar alguns goles do abençoado líquido. Ao menos era água potável.

Nota do autor: esse caso é verídico, e aconteceu em 1848 nos Cerros do Campestre (Santa Maria) e do Botucaraí (hoje no município de Candelária). Era a época em que a ciência iniciava sua luta para desacreditar certas crendices populares. Pelo visto a luta continua...