Dificilmente
pesquisadores têm a felicidade de atestar com segurança quando nasceram certas
lendas e mitos. Para minha alegria, foi possível encontrar a “certidão de
batismo” do Monge João Maria, o santo popular mais reverenciado de todo o sul
do Brasil. Com relativa abundância de documentos, consegui ver quando o
eremita italiano Giovanni Maria de Agostini se tornou o MONGE MILAGROSO DO RIO
GRANDE. Isto teve data e local precisos: entre o final de 1846 e início de 1848
nos arredores da pequena vila de Santa Maria da Boca do Monge.
Após
tentativas frustradas de catequizar índios Charruas no interior do Uruguai e um
tempo detido no palácio do governador de Buenos Aires, Juan Manoel de Rosas
(ver entrevista sobre esta experiência platina do eremita italiano em Presença de João Maria na Argentina de Rosas),
Agostini voltou para o Rio Grande do Sul no final de 1846. Estabeleceu moradia
próxima à vila de Santa Maria. Deixemos que fale o próprio eremita:
"Em
1846, quando eu tinha 45 anos de idade, dirigi-me para um retiro solitário no
Campestre, onde permaneci por onze meses, andando até Santa Maria de La Boca
del Monte. Neste vasto deserto inculto descobri uma fonte de água mineral com
maravilhosas propriedades curativas, e o lugar que era refúgio de tigres e
leões tornou-se uma próspera vila". (Livro de memórias do eremita Juan Maria de
Agostini. WOLFE, Charles. New Mexico´s Hermit. San Miguel News. Volume 2,
Fevereiro de 1925).
Devido a esta descoberta, milhares de pessoas,
de todas as partes do Rio Grande do Sul, do Paraguai, do Uruguai, das
províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, e até de São Paulo e do Rio
de Janeiro, dirigiram seus passos ao Campestre das Águas Santas na esperança de
alcançar a cura das enfermidades. E não pensemos que somente pessoas pobres, “desenganadas”
pelos médicos, “ignorantes” ou “supersticiosos” (segundo termos da época) foram
até o local, antes o contrário. Ex-combatentes da Guerra dos Farrapos, um
ex-governador da província de Corrientes, ricos comerciantes de Santa Maria, uma
aclamada poetisa sul-rio-grandense que vivia na Corte, um pároco do interior de
São Paulo, um ex-monge beneditino que residia em Passo Fundo, um representante
do bispo fluminense (em 1848 o Rio Grande do Sul ainda pertencia à diocese do
Rio de Janeiro), pessoas de destacada posição social, além de índios, mulatos,
pardos, negros escravos ou alforriados foram até o local descoberto por um
monge estrangeiro atrás dos benefícios das Águas Santas. Com tamanha
repercussão, o eremita solitário abandonou o Campestre por não suportar
aglomerações, mas prometeu que voltaria...

Desde o final de 1846, todos os caminhos levavam à Santa Maria da Boca do Monte (sob a sigla SMBM, no centro do mapa) ou, mais especificamente, ao Cerro do Campestre. Neste local o eremita João Maria de Agostini descobriu uma fonte de água com propriedades medicinais para uns, milagrosas para outros (Mapa do Rio Grande do Sul, entre 1838 e 1848. Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia da UFRGS, Gabinete de Cartografia, 1961).
Alexandre, bota a foto dele!
ResponderExcluirAbraço
Paulo Pinheiro Machado